– LOOP MENTAL –
CRUZAMENTO DISCIPLINAR
VÍDEO-ARTE INTERACTIVO / DANÇA CONTEMPORÂNEA
Este projecto consiste numa média-metragem interativa de vídeo-arte que se divide em 7 episódios , cada um com a duração de cerca de 3 a 5 minutos. Cada episódio vive independentemente mas coexistem e seguem uma mesma trama onde a dramaturgia é explorada de forma sequencial não linear tendo como base a noção de tempo e hiato, a partir da construção estética e dramatúrgica que diferentes perspectivas, composição coreográfica ou efeitos visuais oferecem. A dança é repensada com o digital e ambos se interconectam e se estimulam.
O vídeo apresenta-se como filme interactivo onde o espectador recorre a recursos de selecção para seguir a trama cuja estética e narrativa será em torno da memória: entre o real e o fantasioso, questionando a ilusão, deixando o espectador viajar entre planos paralelos. Recorremos a diferentes técnicas de perspectiva e ilusão de óptica através do enquadramento e de pautas coreográficas assim como variados recursos digitais para a criação e manipulação da imagem como técnicas de animação 3D, motion tracking e outros efeitos visuais.
O elemento interativo é a possibilidade de selecção, tendo por referência alguns recursos literários presentes em livros como “ Rayuela ” de Julio Cortázar em que o leitor, a dado momento, pode escolher como seguir essa narrativa. A média – metragem seguirá a mesma lógica, sendo mais longa ou mais curta consoante as opções que os espectadores fazem ao longo da visualização, incorporando-lhe igualmente um charme de jogo. Desta forma somos transportados no trajecto mental da personagem em que o tempo não é linear nem necessariamente sequencial , contudo também o poderá ser.
Esteticamente, tomamos como referência os livros “Perspective and other optical illusions” de Phoebe McNaughton e “Li: Dynamic Form in Nature ” de David Wade, da colecção Wooden Books . Consideramos que estes dois livros em particular são bases de referência visual que estão em afinidade com os conceitos que procuramos desenvolver em LOOP MENTAL. Estes livros exploram diferentes técnicas de criação de perspectivas e ilusões de óptica assim como padrões presentes no mundo natural, portanto, proporcionam bases interessantes que assistem de forma concreta e simbólica na elaboração da dramaturgia.
A dramaturgia oferece diferentes possibilidades de construção ao espectador segundo as suas escolhas onde o plano real e o plano digital são propositadamente misturados, criando assim uma dimensão paralela onde o mundo interior se sobrepõe ao mundo real, seguindo uma trama de memórias onde as mesmas são resignificadas e os espaços físicos reinterpretados.
A dança e o movimento performático surge como uma exploração sensorial do espaço físico / espaço interior onde o confinamento é tomado como circunstância que impele à expansão. O corpo está confinado seja pelo espaço físico, pelo estado emocional ou por circunstância (como o estado actual em que vivemos hoje) e a procura de uma nova agilidade surge como resposta urgente e criativa a essas mesmas condições. A dança – o corpo – tomado como ponto de partida e ponto final. Um corpo que pensa e reflecte as circunstâncias , transparecendo o mundo interno ou a fantasia que se sobrepõe e recria o mundo real no momento presente.
As memórias emergem como resposta ao silêncio gerado pelo isolamento e essas memórias se reconfiguram, condicionando todo o espectro de visões que geram a realidade e o sonho. As escolhas que fazemos com essas visões e o seu prolongamento, como aprofundar ou como abandonar, como virar a página ou como transformar é o que orienta a narrativa , partilhando essa responsabilidade com o espectador através do interface interactivo. A memória é algo tido como fiável embora não deixe de ser uma construção e uma interpretação que condiciona o futuro: o presente raramente é vivido e é nessa descontinuidade de espaço-tempo que pretendemos colocar o espectador.
Alan Watts é um pensador que tomamos como referência , debruçamo-nos particularmente sobre as suas elaborações teóricas, influenciadas pela filosofia oriental, sobre o momento presente e o poder que a consciência exerce sobre o mesmo.
“ But you will cease to feel isolated when you recognize, for example, that you do not have a sensation of the sky: you are that sensation. For all purposes of feeling, your sensation of the sky is the sky, and there is no “you” apart from what you sense, feel, and know.”
in “Wisdow of Insecurity: A message for an Age of Anxiety”, Alan Watts
A realidade é, então, proposta e perspectivada desde um lugar de responsabilidade, de interpretação, de escolha e de resignificação onde o futuro ou seguimento da narrativa recai sobre os passos que se tomam dramatúrgica e simbolicamente.
BIO
David Negrão (1981) inicia o seu trajecto profissional em 2001, quando obtém habilitação no Curso de Animação 2D/3D na ETIC. Frequentou o Curso de Cinema , Vídeo e Comunicação Multimédia na Universidade Lusófona, que abandona para poder prosseguir os trabalhos que lhe foram sendo solicitados como freelancer em animação 3D, nas áreas do Cinema e Publicidade. Desenvolveu o seu trabalho em diversos estúdios de animação, como generalista 3D. Para além destes trabalhos, começou a participar em múltiplos projectos e eventos de Vídeo Mapping e instalações interactivas , nomeadamente: KIMA: NOISE, TATE EXCHANGE (UK) ,Blinc Digital Arts Festival (UK), Light Me (Qatar), 4321 Eclipse Festival (USA), LUMINA Festival da Luz Cascais (PT). Atualmente colabora regularmente com os colectivos artísticos ANALEMA GROUP (UK) e DATAGRAMA (USA) estando envolvido na utilização e criação de novas ferramentas que permitem explorar as potencialidades técnicas e criativas da interactividade e contiguidades entre os planos do real e do digital. ( http://www.davidnegrao.com )
Sara Montalvão (1986) licenciou-se em Estudos Anglo-Americanos pela FLUP em 2008. Profissionalizou-se em Buenos Aires como atriz no Estudio de Actuación Augusto Fernandes em 2010. Realizou a formação avançada em criação e composição coreográfica (FAICC) em 2013 com a Companhia Instável, no Porto. Em 2018 concluiu a Pós-Graduação em Dança Contemporânea (ESMAE/Teatro Municipal do Porto). Fez formações intensivas com coreógrafos de renome como David Zambrano, Edivaldo Ernesto, Luke Jessop/IonTribe, Hofesh Shechter, Francesco Scavetta, Rakesh Sukesh, entre outros. Também constrói e manipula formas animadas. Desenvolveu trabalho comunitário e social enquanto formadora de dança contemporânea, teatro e dança inclusiva para públicos de diversas faixas etárias e em diferentes países. Criou espetáculos a solo e co-criações. Já trabalhou com Mafalda DeVille, José Artur Campos, Teresa Alpendurada, Edgar Pêra, Ana Bacalhau, entre outros. Trabalha atualmente como intérprete em projetos da CiM/VoArte e Teatro do Mar. Em Novembro de 2019 estreou a sua última criação – “Sombras” – juntamente com Diletta Bindi, com o apoio à criação da Fundação GDA,em parceria com diversas estruturas culturais relevantes. Vive atualmente em Lisboa. ( http://www.saramontalvao.com )